A Cidade como objeto de estudo: conceções e correntes de pensamento sobre as cidades - 4 - A Escola de Chicago
1. Os Utopistas
Thomas More, Robert Owen, Charles Fourier, Jean Baptiste Godin,
James Silk Buckingham, Benjamin W. Richardson, Ebenezer Howard
2. O pensamento alemão
1ª Geração: Max Weber e Werner Sombart
2ª Geração: Georg Simmel e Walter Benjamin
3. O pensamento em Inglaterra
Thomas More, Robert Owen, Charles Fourier, Jean Baptiste Godin,
James Silk Buckingham, Benjamin W. Richardson, Ebenezer Howard
2. O pensamento alemão
1ª Geração: Max Weber e Werner Sombart
2ª Geração: Georg Simmel e Walter Benjamin
3. O pensamento em Inglaterra
Desenvolvido por pensadores alemães em Inglaterra: Karl Marx e Friedrich Engels
4. A Escola Americana - Chicago
Robert Park, Ernest Burgess, Louis Wirth
5. O pensamento francês
Henri Lefebvre e Manuel Castells
6. Escola America - Los Angeles
Michael Dear
Migração do pensamento urbano da Europa para os EUA – 2 condições essenciais:
- Crescimento exacerbado das cidades americanas, que criava as condições para o desenvolvimento teórico;
- Época de guerra mundial – a Europa entrou em guerra, de 1914 a 1918, o que diminui as condições para a produção científica.
Chicago – 1ª corrente de pensamento urbano nos EUA, nos anos 1920. Debatia-se com o problema da definição de cidade. Como se define uma cidade? É por oposição ao campo? Ou por oposição a pequenas localidades?
Robert Park (1864-1944)
As “cidades-jardim” são concebidas como cidades planeadas, com comunidades equilibradas de residentes, rodeadas de cinturas verdes e albergando áreas habitacionais, de indústria e agricultura devidamente articuladas. A cidade-jardim representa uma nova filosofia de cidade. A ideia subjacente era a de que a sociedade humana e a beleza da natureza devem coexistir em proximidade.
Robert Ezra Park foi um sociólogo norte-americano e um dos mais eminentes pensadores da Escola de Chicago. Era também jornalista e geógrafo.
Depois de lecionar algumas disciplinas na Universidade de Chicago, sobre os acontecimentos na cidade, passou algum tempo na Europa, onde assistiu a aulas de Georg Simmel. Ao voltar aos EUA, dedicou-se aos estudos urbanos e à organização de um curso que viria a ser conhecido como Escola de Chicago.
Além de Simmel, Robert Park foi muito influenciado por Ebenezer Howard (1850-1928) e pelo seu modelo das cidades-jardim. Assim, passou a defender que o fenómeno urbano deveria ser abordado com base numa ecologia humana.
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As “cidades-jardim” são concebidas como cidades planeadas, com comunidades equilibradas de residentes, rodeadas de cinturas verdes e albergando áreas habitacionais, de indústria e agricultura devidamente articuladas. A cidade-jardim representa uma nova filosofia de cidade. A ideia subjacente era a de que a sociedade humana e a beleza da natureza devem coexistir em proximidade.
A tese de Howard enuncia o efeito de magnetismo dos centros urbanos sobre as populações (da “cidade” e do “campo”), convergindo num mix que é a própria “cidade-jardim”.
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Para Robert Park, as cidades podiam ser vistas como organismos vivos, como plantas que crescem e se expandem, definham e morrem. Segundo Park “Sabemos que as comunidades urbanas nascem, se desenvolvem, se espraiam por algum tempo, até se encolherem novamente. As sociedades humanas são como comunidades botânicas”.
Ernest Burgess
Ernest Watson Burgess (16 de maio, 1886 - 27 de dezembro, 1966 ) foi um sociólogo urbano canadiano nascido em Tilbury, Ontario. Estudou na Kingfisher College, em Oklahoma e continuou os seus estudos de pós-graduação em sociologia na Universidade de Chicago. Em 1916, regressou à Universidade de Chicago, como docente . Burgess foi também o 24º presidente da Associação Americana de Sociologia ( ASA).
Apresentava a cidade como um conjunto de anéis concêntricos. Ao contrário da cidade medieval e barroca (que crescia de fora para dentro), a cidade apresentada pela Escola de Chicago crescia de dentro para fora. A solução para o crescimento das cidades passou pela saída das classes médias do centro para os subúrbios.
Com base nos fundamentos da ecologia humana – em particular na teoria e competição pelo espaço – Burgess explica a distribuição espacial de residências, bairros, indústria e comércio.
1. Os trabalhos desenvolvidos por estes sociólogos articularam, pela primeira vez, de forma explícita, os padrões da organização social com a dimensão espacial – o espaço socialmente construído.
A Escola de Chicago foi também uma escola de ecologia urbana, uma vez que, ao aplicarem os princípios teóricos da ecologia vegetal e animal às comunidades humanas, os seus pensadores procuraram explicar o uso seletivo que os grupos humanos fazem do espaço urbano:
"Em similitude com as sociedades humanas, os sociólogos norte-americanos Park e Burgess usaram pela primeira vez, em 1921, a expressão "ecologia humana", justamente com o sentido de explicarem os comportamentos dos grupos humanos de acordo com idênticos comportamentos dos animais e vegetais em relação ao ambiente em que se inscrevem. Foi Park quem instituiu a teoria da relação causal entre distância social e distância física: o que está em causa é fundamentalmente, neste período, a existência de uma sociologia do espaço a partir da qual as diferenças sociais entre grupos podem ser "medidas" (1974, Duchac - La sociologie des migrations aux États-Unis. Paris: Mauton). Segundo esta teoria, os grupos diferenciados ocupam as parcelas do espaço - numa ordem de importância étnica, social e económica - em processo conflituoso, de acordo com a capacidade que uns têm para se sobrepor aos demais, levando tal circunstância ao domínio de uns sobre outros ou, em alternativa, à assimilação progressiva dos mais fracos pelos mais fortes." (Porto Editora, 2003-2016)
Ernest Burgess
Ernest Watson Burgess (16 de maio, 1886 - 27 de dezembro, 1966 ) foi um sociólogo urbano canadiano nascido em Tilbury, Ontario. Estudou na Kingfisher College, em Oklahoma e continuou os seus estudos de pós-graduação em sociologia na Universidade de Chicago. Em 1916, regressou à Universidade de Chicago, como docente . Burgess foi também o 24º presidente da Associação Americana de Sociologia ( ASA).
Apresentava a cidade como um conjunto de anéis concêntricos. Ao contrário da cidade medieval e barroca (que crescia de fora para dentro), a cidade apresentada pela Escola de Chicago crescia de dentro para fora. A solução para o crescimento das cidades passou pela saída das classes médias do centro para os subúrbios.
Ernest Burgess usou um mapa para descrever a organização sócio-espacial de Chicago. A linha compacta de norte a sul marca a linha costeira, com Chicago à esquerda e o Lago Michigan à direita. Os vários anéis concêntricos dividem a cidade em zonas concêntricas.
Para Burgess, estas zonas concêntricas eram características comuns a todas as cidades e não apenas visíveis em Chicago.
Cada zona tinha um caráter específico:
Com base nos fundamentos da ecologia humana – em particular na teoria e competição pelo espaço – Burgess explica a distribuição espacial de residências, bairros, indústria e comércio.
- A competição pelo espaço gera determinados espaços diferenciados e determinada organização social nesses espaços – representados pelas zonas concêntricas;
- O centro da cidade, caracterizado pela abundância de atividades sociais, culturais e económicas, é dominado por aqueles que dispõem de recursos suficientes para poderem lá viver.
- Os outros indivíduos, com menos recursos, fixam-se em áreas circulares perto do centro da cidade.
- Burgess tenta ainda mostrar como as características da organização da população urbana estão inscritas no espaço – crime, delinquência, violência e conflitos entre gangs, tensões raciais e outros problemas sociais foram identificados em áreas urbanas degradadas, por exemplo, na área em transição (Zona II).
http://citywiki.ugr.es/wiki/Urban%C3%ADstica_1_grupo_A_curso_08/09/MARIAGARC%C3%8DABARRERA/Mirar/Chicago_Burgess
- O modelo constituía uma representação tipo da cidade moderna. Contudo, estudos desenvolvidos na área viriam a questionar a sua dimensão universal, assim como a sua aplicabilidade a qualquer cidade dos EUA. Muitos autores defendiam que a cidade industrial, ao contrário do proposto por Burgess, era constituída por vários centros.
- Crítica ao aspecto biológico (sobrevivência dos mais aptos) como um factor determinante na teoria ecológica da cidade, que tende a relegar para segundo plano as questões culturais e sociais.
Louis Wirth (1897-1952)
Louis Wirth (Gemünden, 28 de agosto de 1897 - Buffalo, 3 de maio de 1952) foi um sociólogo alemão, membro proeminente da Escola de Chicago.
Louis Wirth propôs uma abordagem diferente sobre as questões urbanas. Questão fundamental: saber o que existe de específico na cidade que produz aquilo a que se poderia chamar de estilo de vida urbano.
Foi influenciado pelo trabalho de Simmel, mas viria a afastar-se deste. Enquanto Simmel pretendia entender a vida urbana à luz das forças sistémicas do capitalistmo e, em particular, da economia monetária, Wirth centrou-se no estudo das características das pessoas que viviam na cidade e no modo como as vivências na cidade produziam uma cultura distinta – a cultura urbana.
O urbanismo, ou o estilo de vida urbano, é concebido como um “complexo de traços que configuram o modo de vida típico das cidades”. Ao interpretar a vida social urbana, Wirth desenvolve uma teorização pioneira e sistemática da cidade.
Hipótese central: as mudanças nos modos de vida urbana deviam-se a três fatores principais:
1. Dimensão agregado populacional:
- Só faz sentido chamar cidade a um conjunto urbano a partir de uma dada dimensão/ escala;
- Provoca a diversificação e a individualização;
- Aumenta a competição entre indivíduos;
- Anonimato, superficialidade e utilitarismo nas relações interpessoais.
2. Densidade:
- Não basta que a cidade seja extensa, tem de ter densidade de relação. Uma teia de interações intensas entre sujeitos diferentes entre si.
- A densidade intensifica os efeitos da dimensão do agregado populacional;
- Intensificação da atitude blasé;
- Maior capacidade para viver com desconhecidos.
3. Heterogeneidade:
- A cidade alberga a diferença; traz o «nós» em relação aos «outros»;
- Quanto maior a heterogeneidade, maior a tolerância entre grupos;
- Intensificação do anonimato.
Regresso ao princípio: esta definição da cidade é feita por oposição ao campo. Campo como dimensão relacional da cidade. Na urbanização americana ainda fazia sentido a discussão sobre o campo: a América ainda se estava a industrializar. Nunca tinha sido feita uma definição como esta do que era uma cidade.
Os efeitos deste conjunto de fatores poderiam ser analisados estatisticamente, conferindo à teoria de Wirth a capacidade de previsão de determinados resultados. Por exemplo, numa amostra de cidades, quanto mais altos fossem os valores obtidos nos três fatores, maior seria a possibilidade de estarmos perante uma verdadeira cultura urbana.
No seu texto "O urbanismo como modo de vida", publicado originalmente em 1938, Louis Wirth discutia o grau de influência das cidades no mundo seu contemporâneo e argumentava que aquelas não eram somente o lugar de habitação e trabalho dos indivíduos modernos mas “o centro que põe em marcha e controla a vida económica, políica e cultural”. Por essa razão, concluía, há mais de seis décadas, que o “crescimento das cidades e a urbanização do mundo são dos fenómenos mais impressionantes dos tempos modernos” (Wirth, 2001 [1938]: 45).
No seu texto "O urbanismo como modo de vida", publicado originalmente em 1938, Louis Wirth discutia o grau de influência das cidades no mundo seu contemporâneo e argumentava que aquelas não eram somente o lugar de habitação e trabalho dos indivíduos modernos mas “o centro que põe em marcha e controla a vida económica, políica e cultural”. Por essa razão, concluía, há mais de seis décadas, que o “crescimento das cidades e a urbanização do mundo são dos fenómenos mais impressionantes dos tempos modernos” (Wirth, 2001 [1938]: 45).
Tal como Simmel, Wirth não se apresentava otimista relativamente à vida na cidade. Esta era caracterizada pela erosão das relações primárias – as quais tendiam a ser substituídas por relações secundárias, utilitárias e impessoais.
SÍNTESE - Alguns contributos fundamentais da Escola de Chicago:
1. Os trabalhos desenvolvidos por estes sociólogos articularam, pela primeira vez, de forma explícita, os padrões da organização social com a dimensão espacial – o espaço socialmente construído.
2. As pesquisas baseavam-se na observação direta de interações sociais, a partir das quais se pretendia identificar as novas formas de organização social.
3. As preocupações com o modo como a vida urbana conduzia à desorganização social e a novas patologias individuais foram responsáveis pela investigação exaustiva de comunidades marginalizadas, assim como dos padrões de adaptação exibidos por indivíduos, grupos e comunidades ao espaço urbano.
4. Envolvimento direto dos seus membros no planeamento e nas políticas urbanas. Estes acreditavam em ideais democráticos e na necessidade de reformas sociais que tornassem possível a melhoria das condições de vida urbana – evitando a desagregação social característica da cidade de Chicago, em particular, e das grandes metrópoles em geral.
Para os membros da Escola de Chicago, a cidade moderna era concebida como um lugar de desorganização social, de conflito e de constante luta pela sobrevivência. Esta conceção da cidade viria a influenciar, de forma determinante, as investigações desenvolvidas no âmbito da sociologia urbana.
Bibliografia:
FREITAG, Barbara (2006), Teorias da cidade. Campinas (SP): Papirus.
GOMES, Carina (2013), Cidades e Imaginários Turísticos: Um estudo sobre quatro cidades médias da Península Ibérica. Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: Tese de Doutoramento em Sociologia - Cidades e Culturas Urbanas.
HORTA, Ana Paula (2007), Sociologia Urbana. Lisboa: Universidade Aberta.
MELA, Alfredo (1999), A Sociologia das Cidades. Lisboa: Estampa.
RÉMY, Jean; VOYÉ, Liliane (1994), A cidade: rumo a uma nova definição?. Porto: Afrontamento.
WIRTH, Louis (2011) [1938], “O urbanismo como modo de vida”, in Carlos Fortuna (org.), Cidade, Cultura e Globalização: Ensaios de Sociologia. Oeiras: Celta Editora, 45-65.
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