A Cidade como objeto de estudo: conceções e correntes de pensamento sobre as cidades - 3 - O pensamento em Inglaterra

          1. Os Utopistas
              Thomas More, Robert Owen, Charles Fourier, Jean Baptiste Godin,
              James Silk Buckingham, Benjamin W. Richardson, Ebenezer Howard
          2. O pensamento alemão
               1ª Geração: Max Weber e Werner Sombart
               2ª Geração: Georg Simmel e Walter Benjamin
          3. O pensamento em Inglaterra
              Desenvolvido por pensadores alemães em Inglaterra: Karl Marx e Friedrich Engels
          4. A Escola Americana - Chicago
              Robert Park, Ernest Burgess, Louis Wirth
          5. O pensamento francês
              Henri Lefebvre e Manuel Castells
          6. Escola America - Los Angeles
              Michael Dear
 

Entre a 1ª e a 2ª gerações do pensamento alemão sobre as cidades, surgiu uma corrente desenvolvida por pensadores não ingleses (que estavam em Inglaterra). No entanto, no que respeita à literatura sobre as cidades, esta escola inglesa foi ofuscada pela 2ª Geração da Escola Alemã, no seio da qual Georg Simmel teve um papel preponderante.
 
 
Karl Marx (1818-1883)
Karl Heinrich Marx nasceu a 5 de maio de 1818, em Treves, na Prússia Renana e morreu em Londres em 1883. Foi filósofo, economista, sociólogo, jornalista e um revolucionário.
Terceiro dos nove filhos de uma família de classe média judaico-alemã, estudou Filosofia, História e Direito nas universidades de Bonn e de Berlim, depois de ter concluído os estudos liceais na cidade natal. Em Bonn, conheceu Jenny von Westhalen, de origem aristocrática, com quem viria a casar mais tarde.
Concluiu o seu doutoramento na Universidade de Iena, com uma tese sobre a Diferença entre a Filosofia da Natureza de Demócrito e a de Epicuro (1841). Obrigado a renunciar à carreira universitária, entra como redator para a Gazeta Renana de Colónia mas viria a ser despedido no ano seguinte (1943). Muda-se para Paris, já casado, onde conheceu Engels, seu inseparável companheiro até ao final da vida.
Contactou com a Liga dos Banidos, que reunia refugiados políticos alemães em Paris e que, mais tarde, viria a dar origem à Liga dos Comunistas, cujo manifesto escreveu com Engels (1848). Os seus escritos revolucionários deram origem a um pedido de expulsão do governo prussiano, levando Marx a refugiar-se em Bruxelas. É, depois, expulso da Bélgica e volta, primeiro a Paris e depois a Colónia. Levado a tribunal depois da fracassada revolução de 1848, é expulso, primeiro da Alemanha e depois de Paris, refugiando-se em Londres, onde viveria até morrer (Cruz, 2001).
As suas obras são, ainda hoje, referências importantes para a análise das sociedades capitalistas e das lutas das classes trabalhadoras. O expoente máximo do pensamento marxista sobre as cidades dá-se, no entanto, com Friedrich Engels.
 
 
 
Friedrich Engels (1820-1895)
Nasceu a 28 de novembro de 1820, em Barmen, na Renânia e morreu em Londres, no dia 5 de agosto de 1895. Era mais velho de nove filhos de um rico industrial têxtil e pietista protestante.
Desde cedo, revelou simpatia pelas ideias de Hegel, mesmo antes de, em 1841, ter contactado com o círculo de Bruno Bauer, em Berlim, onde foi fazer o serviço militar e de ter passado, em Colónia, pela Gazeta Renana.
Na juventude, fica impressionado com a miséria em que vivem os trabalhadores das fábricas da sua família. Fruto dessa indignação, Engels desenvolve um detalhado estudo sobre a situação da classe operária na Inglaterra.
Permaneceu ligado à firma de seu pai, em Manchester, até 1870, tendo ajudado muitos refugiados políticos alemães, entre os quais Marx, a quem fixou uma renda anual a partir de 1869.
Foi um teórico revolucionário alemão que, com Karl Marx, fundou o chamado socialismo científico ou marxismo. Foi coautor de diversas obras com Marx, sendo que a mais conhecida é o Manifesto do Partido Comunista. Também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O Capital, principal obra de seu amigo e colaborador.
Nos últimos anos de vida, desenvolveu intensa atividade teórica e doutrinária, publicando obras de crítica e de divulgação (Cruz, 2001).
 

Para Marx e Engels, a cidade era o espaço onde as contradições do modo de produção capitalista assumiam uma relevância particular. Estes autores não estudavam propriamente a cidade, mas sim a cidade como o lugar, por excelência, onde determinados fenómenos sociais em que estavam interessados aconteciam. É por referência a esses fenómenos que a cidade era estudada. 
 
O seu interesse na questão urbana residia nas dinâmicas do modelo de produção capitalista e no modo como estas dinâmicas criam determinados padrões de urbanização. O sistema capitalista era entendido como um factor determinante na emergência de cidades como espaços de desigualdade, de exclusão e de segregação das camadas populacionais mais pobres e desfavorecidas, à mercê de uma burguesia dominante e poderosa.

Fizeram uma análise do fenómeno urbano centrada em duas dimensões fundamentais:

1. A cidade era entendida como a expressão da lógica capitalista – burgueses e operários, construção de bairros operários e de toda uma nova cidade que não era necessária antes do capitalismo;

2. O processo de urbanização é interpretado como uma condição necessária para a construção do socialismo – só na cidade se poderia dar a revolução socialista; em Marx e Engels os camponeses não desempenhavam um papel importante. 

Karl Marx

"O capital" (1867 - primeiro volume).
Nesta que é considerada a sua obra mais importante, Marx denuncia a exploração da classe operária nos centros urbanos da Europa no século XIX, que viria a prolongar-se para o séc. XX.

 
Friedrich Engels

A sua obra sobre as condições de vida da população operária em Machester, "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra" (1845), é considerada uma das mais importantes do seu trabalho.
Nessa obra, defende que a cidade não tem condições para acolher os trabalhadores que a procuram, facto que dá lugar a configurações espaciais diferentes das que até então eram conhecidas. Defende, também, que o crescimento das cidades origina o correlativo crescimento das desigualdades.
As mudanças no desenho das cidades permitiam que fosse possível viajar dos subúrbios até ao centro de Manchester sem ver nenhum dos bairros pobres entretanto construídos. Engels defendia que se tratava do funcionamento da arquitetura ao serviço das classes mais favorecidas.


SÍNTESE


Para estes pensadores, a cidade ocidental moderna era o lugar da produção e da reprodução do capital, resultante da sociedade capitalista sendo, portanto, constitutiva de processos sociais mais amplos. A cidade era a expressão visível da degradação da classe operária e das suas condições de vida, denunciadas em "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra" (Engels, 1845) e em "O Capital" (Marx, 1867).
No "Manifesto do Partido Comunista" defenderam que "a história de qualquer sociedade até nossos dias é a história da luta de classes" (Marx e Engels, 1848), daí resultando a noção de cidade industrial do séc. XIX, como lugar da histórica lutas de classes. Berço da burguesia e da sua ascensão revolucionária, a cidade era, também, o espaço onde se evidenciava a exploração dos trabalhadores e onde tal exploração seria superada, através da revolução operária.
 
Outras obras de Karl Marx e Friedrich Engels disponíveis aqui.

 
Bibliografia:
 
CRUZ, Manuel Braga da (2001), Teorias Sociológicas: Os fundadores e os clássicos (antologias de textos). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
FREITAG, Barbara (2006), Teorias da cidade. Campinas (SP): Papirus.
HORTA, Ana Paula (2007), Sociologia Urbana. Lisboa: Universidade Aberta.
MELA, Alfredo (1999), A Sociologia das Cidades. Lisboa: Estampa.
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