As maiores cidades do mundo – 2014/2015

As maiores cidades do mundo – 2014/2015
Tóquio, Deli e Xangai são as maiores aglomerações urbanas do mundo, com 38, 25 e 23 milhões de habitantes, respetivamente

Num texto publicado originalmente em 1938, sobre os modos de vida urbanos, Louis Wirth discutia o grau de influência das cidades no mundo seu contemporâneo e argumentava que aquelas não eram somente o lugar de habitação e trabalho dos indivíduos modernos mas “o centro que põe em marcha e controla a vida económica, política e cultural”. Por essa razão, concluía, há mais de seis décadas, que o “crescimento das cidades e a urbanização do mundo são dos fenómenos mais impressionantes dos tempos modernos” (Wirth, 2001: 45). Se, por um lado, mais de metade da população mundial vive hoje em zonas urbanas, por outro, a importância e o protagonismo das cidades e, sobretudo, das megacidades e metrópoles globais, não parou de crescer desde os tempos de Louis Wirth. Na verdade, são essas grandes cidades de influência mundial que mais vêm impressionando e marcando os discursos das ciências sociais e, em particular, dos estudos urbanos (Gomes, 2013).

Quais são as maiores cidades do mundo? Do que falamos hoje quando falamos de uma cidade? Qual o futuro que podemos prever para as nossas cidades?



Segundo a Organização das Nações Unidas, existiam, em 2007, 19 megacidades – com mais de 10 milhões de habitantes. Alguns problemas comuns caracterizavam, de forma geral, estes grandes aglomerados urbanos:

• Coexistência de zonas legais (cidade formal) e ilegais (cidades informal);
• Residências sem condições mínimas de habitabilidade;
• Ausência de infraestruturas básicas;
• Falta de empregos regulamentados – grande presença da economia informal;
• Elevados níveis de pobreza.

No mesmo ano de 2007, Jeremy Seabrook, reconhecido escritor e jornalista, escrevia, no seu livro Cities: Small Guides to Big Issues, o seguinte: "No one really knows at which point a majority of the world's population will become urban. Has it already occured? Will it happen in the next decade?"

Se, em 2007, havia a dúvida sobre o momento em que a maioria da população mundial seria urbana, soubemos depois, segundo os relatórios das Nações Unidas, "World Urbanization Prospects: The 2007 Revision" e "World Urbanization Prospects: The 2009 Revision", que 2008 foi um marco crucial: pela primeira vez na história da humanidade, a população urbana igualou a população rural do mundo e, daí em diante, a população mundial seria cada vez mais urbana. De tal forma que, em 2009, a população urbana cruzou a marca dos 50%, sendo depois ligeiramente superior à população rural.

Em 2011, o “World Urbanization Prospects, the 2011 Revision” confirmaria esta tendência. Esse relatório previa que, entre 2011 e 2050, a população mundial aumentasse em cerca de 2,3 biliões de pessoas, passando de 7 para 9,3 biliões. A população urbana deveria crescer de 3,6, em 2011, para 6,3 biliões, em 2050. Por outro lado, a população das zonas rurais do mundo deveria decrescer na década seguinte, sendo composta, em 2050, por 0,3 biliões de pessoas a menos do que em 2011.

Em julho de 2015, a população mundial atingiu os 7,3 biliões, ou seja, mais 1 bilião desde 2003 e mais 2 biliões desde 1990. Desses 7,3 biliões, 50,4% são homens e 49,6% mulheres. As projeções para 2016 apontam para um aumento de 83 milhões de pessoas no mundo. Mesmo assumindo que os níveis de fertilidade vão continuar a decair, espera-se que a população mundial atinja os 8,5 biliões em 2030, entre 9,7 biliões em 2050 e 11,2 biliões em 2100.

Globalmente e de acordo com os últimos dados disponíveis, em 2014, 54% da população mundial residia em áreas urbanas, sendo previsível que essa percentagem aumente para 66% em 2050.


Gráfico 1: População rural e urbana no mundo, 1950-2050
United Nations (2014), World Urbanization Prospects - the 2014 revision

No mesmo ano de 2014, as regiões mais urbanizadas do mundo eram a América do Norte (82% da população a residir em áreas urbanas), América Latina e Caraíbas (80%) e Europa (73%). Pelo contrário, África e Ásia permaneciam zonas predominantemente rurais, com, respetivamente, 40% e 48% das suas populações a residirem em áreas urbanas. Nestes dois continentes, o ritmo da urbanização tem-se revelado bastante mais acelerado do que no resto do mundo, prevendo-se que os seus níveis de população urbana atinjam 56% e 64%, respetivamente, em 2050.


Gráfico 2: Proporção da população rural e urbana, por grandes áreas do mundo, 1950-2050

United Nations (2014), World Urbanization Prospects - the 2014 revision

Os dados de 2014 permitem projetar, para 2050, um aumento de 2,5 biliões de pessoas à população urbana, sendo que quase 90% desse crescimento terá lugar em África e Ásia. Juntos, apenas três países – Índia, China e Nigéria – acolherão 37% do crescimento da população urbana mundial projetado para o período entre 2014 e 2050. Prevê-se que a China contribua com mais 404 milhões de habitantes em zonas urbanas, a China com 292 milhões e a Nigéria com 202 milhões.

Cerca de metade dos habitantes urbanos do mundo residem em aglomerados relativamente pequenos, de menos de 500.000 pessoas, enquanto apenas 1 em cada 8 vivia numa das 28 megacidades, com mais de 10 milhões de habitantes, que existiam no mundo em 2014.


Gráfico 3: Percentagem de população urbana e localização dos aglomerados urbanos com um mínimo de 500.000 habitantes, em 2014

United Nations (2014), World Urbanization Prospects - the 2014 revision

Em 1970, havia apenas duas megacidades no mundo – Tóquio e Nova Iorque-Newark. Duas décadas depois, eram já 10: além de Tóquio e Nova Iorque-Newark, Cidade do México, São Paulo, Bombaim, Osaca-Kobe, Calcutá, Los Angeles-Long Beach-Santa Ana, Seul e Buenos Aires.

Em 2011, eram já 23 estas aglomerações urbanas. Em 2014, contavam-se 28. Para 2025, estimam-se 37 e, em 2030, prevê-se que sejam 41.


Tabela 1: População e ranking dos maiores aglomerados urbanos, com mais de 5 milhões de habitantes, em 1 de julho de 2014

United Nations (2014), World Urbanization Prospects - the 2014 revision


Tóquio é a maior cidade do mundo, com uma aglomeração de 38 milhões de habitantes, seguida de Deli, com 25 milhões, Xangai com 23 milhões e Cidade do México, Bombaim e São Paulo, com 21 milhões cada. Prevê-se que, em 2020, a população de Tóquio comece a decrescer, apesar de esta continuar a ser a maior cidade do mundo, com 37 milhões de pessoas, novamente seguida por Deli, cuja população deverá atingir os 36 milhões. Se Osaca e Nova Iorque-Newark ocupavam o segundo e terceiro lugar no ranking das maiores cidades do mundo, em 1990, espera-se que, em 2030, estas cidades passem para as 13ª e 14ª posição, respetivamente.

A maior parte destas grandes cidades está localizada no Sul Global. A China, por si só, reúne 6 megacidades e 10 cidades com população entre 5 e 10 milhões de habitantes, às quais se somará uma outra megacidade e 6 grandes cidades (5-10 milhões) até 2030. Na Índia, 4 das suas grandes cidades, com uma população entre 5 e 10 milhões, passarão a megacidades nos próximos anos, ficando este país com 7 megacidades em 2030. Além da China e da Índia, a Ásia possui ainda outras 7 megacidades e 11 grandes cidades.

Cairo, Kinshasa e Lagos eram as únicas megacidades de África, em 2014. No entanto, prevê-se que, em 2030, também Dar es Salaam (Tanzânia), Joanesburgo (África do Sul) e Luanda (Angola) ultrapassem a marca dos 10 milhões de habitantes. O número de grandes cidades (5-10 milhões) também aumentará neste continente, de 3, em 2014, para 12, em 2030.

Na América Latina, Bogotá (Colômbia) e Lima (Perú) deverão ultrapassar os 10 milhões em 2030, juntando-se às outras 4 megacidades já existentes nesta região: Buenos Aires, Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo.

Apesar destas projeções, há um grau razoável de incerteza relativamente ao crescimento de algumas cidades, sobretudo em aglomerados como Kinshasa ou Luanda, onde os dados dos recenseamentos há muito que não são coligidos ou comunicados.


Desafios no mundo global e políticas de urbanização mundial
À medida que o mundo se urbaniza, os desafios do desenvolvimento sustentável sentir-se-ão cada vez mais nas cidades, em particular em países de rendimento médio ou baixo, onde o ritmo de urbanização é mais rápido. Ao mesmo tempo, as cidades oferecem oportunidades para expandir o acesso a serviços, como saúde e educação, para um grande número de pessoas e de forma economicamente eficiente. 
O fornecimento de transporte público, bem como de habitação, eletricidade, água e saneamento para uma área densamente povoada é normalmente menos dispendioso e menos prejudicial para o ambiente do que a disponibilização de um nível semelhante de serviços em zonas predominantemente rurais. Os habitantes urbanos têm também maior acesso a mercados de trabalho mais diversificados, bem como a condições para desfrutarem de uma vida mais saudável.
São cada vez mais necessárias políticas que assegurem que os benefícios do crescimento urbano sejam partilhados de forma equitativa e sustentável. Entre essas medidas estão aquelas que permitam planear e gerir a distribuição espacial da população e as migrações internas, as que apontem parqa uma distribuição mais equilibrada do crescimento urbano, as que possibilitem a obtenção de dados e informação precisa, consistente e atempada sobre as tendências globais da urbanização e crescimento urbano e, finalmente, as que tenham como finalidade uma urbanização sustentável.


Referências:
Gomes, Carina (2013), "Cidades e Imaginários Turísticos: Um estudo sobre quatro cidades médias da Península Ibérica", Tese de Doutoramento em Sociologia - Cidades e Culturas Urbanas. Coimbra: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Wirth, Louis (2001) [1938], "O urbanismo como modo de vida", in Carlos Fortuna (org.), Cidade, Cultura e Globalização: Ensaios de Sociologia. Oeiras: Celta Editora, 45-65. 
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